Uma antiga propriedade localizada no final da Rua do Canto, freguesia do Capelo, a 1,5km do Farol dos Capelinhos. A propriedade, que pertenceu à família do Sr. Tomás Vargas desde o início do Séc.XX até 1988, tem uma forte ligação histórica com o Vulcão dos Capelinhos e teve um papel social fulcral dentro da vida da freguesia.
Depois dum longo período de abandono, em 2017 é comprada pelos actuais proprietários Gonçalo Tocha (realizador de cinema) e Sophie Barbara (produtora). Durante o processo de renovação foram informados, pela comunidade, que a casa tinha albergado a Missão Cientifica que estudou a erupção dos Capelinhos. Decidiram investigar e obter provas.
Em setembro de 1957 um novo rumo para a casa iria revelar-se graças à erupção do Vulcão dos Capelinhos, o fenómeno vulcanológico mais extraordinário assistido no mundo de então. O Vulcão dos Capelinhos foi o primeiro vulcão submarino no mundo a poder ser observado e estudado de maneira continua, durante os 13 meses de erupção, devido à sua localização junto à costa. Pela primeira vez no mundo, podia-se observar de maneira continua e segura um fenómeno natural desta dimensão.
Antes da erupção do vulcão os proprietários originais da casa, a família do Srº Tomás Vargas, já se tinha mudado para a freguesia do Salão e cederam temporariamente esta casa às autoridades. O Governador de então, Drº Freitas Pimentel, decide que seria essa a casa que iria albergar as missões cientificas de observação e estudo do Vulcão dos Capelinhos.
A casa tinha as condições e as dimensões adequadas que permitiam albergar as equipas de trabalho e instalar os aparelhos de medições e de comunicação para o estudo da erupção e tinha também uma localização privilegiada como ponto de observação para o Porto Comprido, o Farol e o Vulcão dos Capelinhos.
A localização privilegiada da casa com o seu ponto de observação sobre o vulcão foi muito mais do que um miradouro, tornou-se um verdadeiro encontro social para a freguesia e para a ilha do Faial.
A casa foi um ponto de referência para os habitantes e todos os visitantes que queriam observar a erupção do vulcão de perto mas com alguma segurança. As pessoas reuniam-se à frente da casa num pequeno miradouro/largo do outro lado da estrada, como se comprova na imagem a preto e branco retirada dos arquivos da RTP.
Assim que surgiu a noticia da erupção do Vulcão dos Capelinhos a 27 de Setembro de 1957, a missão cientifica foi preparada em Lisboa pela Profª Assistente Raquel Soeiro de Brito e pelo Prof Orlando Ribeiro de forma rápida e expressa em somente 4 dias. A 05 de Outubro de 1957 a missão cientifica do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, que ainda incluía o cineasta Salvador Fernandes e os alunos António Ribeiro e António Lucas da Silva, chegou ao Faial e ficou alojada na casa de Tomás Vargas no Canto do Capelo durante dois períodos de 1 mês cada uma.
Para esta residência pouco traziam, alguns instrumentos de análise muito rudimentares, termómetros que só suportavam os 300 graus, pequenos manómetros, cadernos, canetas, câmaras fotográficas e câmaras de filmar. Observavam o fenómeno, filmavam e fotografavam das encostas do velho vulcão do Costado da Nau ou da cisterna da casa e nos dias de grandes explosões de cinza que cobriam o céu de um manto negro, refugiavam-se atrás das janelas da casa onde faziam os seus apontamentos, de dia e de noite.
Raquel Soeiro de Brito e Orlando Ribeiro em trabalhos de campo durante a erupção dos Capelinhos (1957, 58)