"Após o desenvolvimento da peça de filme "Como Fazer uma Nuvem" (2020) na ilha de São Jorge, a temática das nuvens (físicas e metafóricas) volta a surgir em Fenómenos de Sombra, um livro de artista de edição limitada cujo lançamento decorreu em Abril 2024. Assim, mais uma vez aprofundando esta pesquisa, o tema central do projecto para esta residência artística é as nuvens; tanto físicas e que tanto definem o ambiente mágico dos Açores e do vulcão, como metafóricas, associando a erupção a fenómenos emocionais. O vulcão também é o principal investigador destas nuvens, visualizando o céu como um observador astronómico, guardando a memória das nuvens até à erupção na qual liberta esse céu de dentro, os segredos que foram apagados no fundo do mar finalmente são devolvidos ao céu. Este contraste entre o céu de dentro e o céu de fora será um dos elementos a explorar gráfica e plasticamente durante a estadia. Através de desenho, fotografia e escrita, a peça final tomará o corpo de um rolo de tecido com sistema de manivelas, operando como um tapete rolante manual.

O espectador poderá rodar a manivela ou puxar uma corda para rodar os painéis de tecido pintado. Este acto é um espelho do movimento das placas tectónicas e do rolar e sobreposição da fenda onde o tempo se apaga para magma e do desenrolar da erupção subsequente. Técnicas e processos que serão aplicados no tecido são a pintura a óleo e pigmentos naturais, a cianotipia e viragens de cor com elementos naturais. As marcas no tecido são compostas de várias secções impressas maioritariamente em Cianotipia azul, utilizando uma prensa de dimensões pequenas e adaptadas ao espaço de trabalho. As impressões são formadas com a luz natural dos Açores e com compostos químicos que se aproximam da realidade do vulcão."

A instalação é um projecto em curso que a artista irá desenvolver durante o ano 2024 entre Faial, Flores e Lisboa.

A artista dinamizou uma oficina de iniciação a Cianotipia junta da comunidade local onde os participantes puderem realizar o processo completo dessa técnica artística que dá lugar a todas as revelações concretizando todos os passos desde a colheita das plantas, ao processo criativo em câmara obscura, a revelação à luz solar e imersão no banho azul e secagem ao sol.

Beatriz Santa-Rita é uma artista cujo percurso académico e profissional se divide entre Lisboa e Londres, onde em 2020 se licenciou em Belas Artes na City and Guilds of London Art School. Atualmente foca-se em pintura e instalação de pintura. Exposições recentes incluem Sad With a Square/ Pós e Triste ao Quadrado em Catorze Associação Cultural onde foi curadora, artista em exposição, e compositora para a banda sonora da peça de filme projectada e a instalação em papel ABRIGO a propósito do debate para o Housing Action Day na Livraria das Insurgentes, como parte de uma série de revistas escultóricas em desenvolvimento. Eventos recentes incluem também o lançamento da edição limitada de livros de artista Fenómenos de Sombra em Abril de 2023.